quarta-feira, 27 de junho de 2012

Os Filhos de Estocolmo




Não há sol que me fizesse tão bem quanto aquele ou lugar que me deixasse mais feliz no mundo. Nasci na savana e vim do leão. Não posso dizer que era amigo da seca, mas acostumava-me a ela. A melanina intensa do meu corpo me fazia resistente e não havia calor demais que pudesse me tirar isso. Sou filho das noites sem mormaço: um garoto africano que vivera em onze anos mais do que um americano obeso vivera em cinquenta.
Já passei fome e uma vez quase fui comido por uma fera. Mas April McCarthy me encontrou e me levou para a ONG. Nunca entendi muito bem porque aquelas pessoas faziam aquilo tudo de graça, mas não me importei em ser resgatado. Conseguia comer bem e por alguns meses, tive uma vida feliz.
Além da gentileza e da bondade de April, havia outra coisa nela que me agradava mais: Seu belo par de seios. Devia ter por volta de vinte anos.  Ela era velha demais para mim, mas não me importava. Todas as noites a espiava na janela de seu trailer e me masturbava, embora nunca tivesse conseguido chegar ao clímax, como a maioria dos meus amigos se gabavam conseguir.
Mas April McCarthy era meu segredo; meu louro e delicado segredo. Ninguém sabia que, antes de se trocar, April gostava de deitar nua por alguns minutos na cama para chorar. Ninguém sabia que April quase se casou uma vez, mas seu noivo morreu em um acidente de carro junto com um traveco prostituto. Mas April me contou tudo. Ela também sabia que eu a observava.
- Você é um garoto especial, Bolah. – falou enquanto conversávamos sobre vidas passadas e tapetes voadores. – Quero que você conheça um homem muito bom e vá morar com ele. Não é americano como eu, mas vive em um país muito bonito chamado Suécia.
                - Não sei não, senhora. Gosto daqui.
                - Você só gosta daqui porque não conhece os outros lugares. Quando conhecer o Sr.Ekwall, ficará encantado.
                - Não precisa ficar com dó de mim, dona. – falei, tentando parecer tão durão quanto esses personagens de filmes de velho oeste que os americanos da ONG gostavam de nos mostrar. – Sou sozinho no mundo e não há nada mais que eu possa pedir para Deus. Não com esse tanto de gente para me ajudar.
                April McCarthy me encarou. Achei que estivesse brava. Mas me deu uma beijoca na bochecha.
                - A Suécia é cheia de garotas louras. Acho que você iria gostar de lá, já que vou embora daqui uns meses. – Ela tinha um olhar sério no rosto. – A ONG não pode mais se manter.
                Fiquei tão vermelho quanto um garoto de onze anos podia ficar em situações como essa.
                - Nesse caso, senhora, irei reconsiderar seu pedido.
                - Fico feliz. O Sr.Ekwall já ouviu bastante sobre você e quer muito conhecê-lo.
                Como forma de incentivo, April McCarthy me fez homem de verdade. Deixou minha mente melada e meu pênis ereto por uma semana. Pela primeira vez na vida, consegui gozar; e foi dentro da boca brilhante e delicada da garota que salvara minha vida.
                O Sr.Ekwall era um bocado excêntrico. Segundo April, era um velho filantropo que gostava de mudar a vida das pessoas. Ele já havia ajudado doze jovens como eu; dera-lhes casa, comida, amor e educação. Também já havia ganho o prêmio Nobel, mas na época eu não tinha a mínima ideia do que isso significava.
                O velho chegou em uma bonita tarde de maio. Usava uma boina verde e óculos redondos pequenos demais para seu rosto pontudo.
                - Você sabe por que o escolhi, Bolah? – falou, apertando minha mão pela primeira vez.
                - Não, senhor. – respondi.
                - A jovenzinha April me falou que você é tão... cheio de vida. É isso que procuro em um filho.
                - Espero atender suas expectativas, senhor. Fiquei sabendo que terei doze irmãos.
                Precisei me despedir de April antes do esperado. Ela me ajudou a preencher toda a papelada da adoção. Pensava em todas as garotas louras que iria conhecer na Suécia. Mas infelizmente, já no jato particular do Sr.Ekwall eu descobri quais eram suas verdadeiras intenções.
                - Sente-se ao meu lado, Bolah. Seu nome é muito bonito, sabia disso? – Ele passou as mãos nas minhas pernas e continuou a conversa. – Quero deixar bem claro que nossa relação durará apenas dois anos. Depois disso, não o quero mais.
                Lembro que lágrimas silenciosas saíram dos meus olhos. Era tarde demais para voltar atrás e em breve eu seria abandonado novamente. Solucei e perguntei:
                - Perdão, senhor?
                Sr.Ekwall deu uma risadinha agradável.
                - Não vou te abandonar, criança, fique tranquilo. O que eu quero dizer é que nossa relação durará dois anos. Você estará livre no seu aniversário de quatorze anos. Provavelmente antes, já que garotos negros costumam crescer antes da hora.
                Engoli seco quando o Sr.Ekwall pegou em meu pênis, que estava mole e amedrontado.
            - Vou te dar uma ajudinha.
                Colou-me em seu colo e tirou minhas calças de forma que achei que fosse me dar palmadas na bunda.  Mas ao invés disso, massageou meu ânus com o dedo indicador. Depois de um tempo, percebi que meus pênis estava duro. Não sabia a razão, já aquilo era mais assustador do que ficar frente-a-frente com um leão. Mas eu estava duro; artificialmente duro.
                - Pronto! Aí está ele! Que grandão! – Sr.Ekwall chupou o dedo indicador como se tivesse chocolate na ponta. – Bolah, não quero te machucar. Quero apenas ser sua puta. Você sabe como fazer isso? Já fez antes?
                Respondi que sim. O velho tarado ficou curioso.
                - Ah é? Posso saber com quem? Algum coleguinha?
                - Com a April McCarthy. Da ONG.
                O Sr.Ekwall gargalhou de forma assustadora.
                - Eu sabia! Eu sabia que ela já tinha te experimentado! Estava nos olhos dela!
                Não falei nada. Na verdade, estava tremendo.
                - Já que é assim, quando você for me comer, quero que pense na senhorita McCarthy. Pense em suas tetas rosadas, balançando no ar!
                Foi o que eu fiz. Quieto, comecei a comer a bunda branca e gorda do Sr.Ekwall, que gemia igual uma mulherzinha no cio. Depois de meia hora, nos lavamos no chuveiro do jato.
                - Sabe, Bolah, acho que você vai gostar de Estocolmo. É uma cidade muito bonita.
                Fiz que sim com a cabeça. O Sr.Ekwall era estranhamente educado.
- Eu sou um bom homem, não me julgue pelo que acabamos de fazer. Eu só...tenho minhas necessidades.
- E vou atendê-las conforme sua vontade, senhor. – Emendei. Até então o velho fora gentil comigo. Precisava jogar conforme as regras, por mais horríveis que elas fossem.
- He he he! Eu sabia que íamos nos dar bem! Vou te dar comida e te colocar em uma boa escola. Vou pagar pela sua educação e te conseguir um trabalho importante. Os seus irmãos se tornaram personalidades ilustres no país. Graças a mim.
Quando desembarcamos em Estocolmo, o piloto me cumprimentou e me deu um aperto de mão forte demais. Era um homem negro e magro que usava óculos de aro grosso.
- Meu nome é James. Também sou filho do Sr.Ekwall.
Ele também havia comido o velho. Estava na cara. Mas estava crescido demais para o Ekwall.
- Sou Bolah. É um prazer, meu mais novo irmão.
Pousamos em uma pista em cima da mansão do Sr.Ekwall. Estocolmo era inacreditavelmente linda. Nunca imaginei que uma cidade pudesse ser tão iluminada. Outro filho de Ekwall, um negro de vinte anos chamado Gabriel, mostrou-me o meu novo quarto. Era muito espaçoso, tinha escrivaninha, uma estante lotada de livros e uma cama limpa coberta por um lençol muito branco.
Minha rotina na mansão se resumia em estudar e foder Ekwall em seu quarto, com a ajuda de instrumentos de tortura sexual. Ele pedia para que eu o amarasse em seus brinquedos e o comesse de forma violenta. Acostumei-me tanto ao sexo quanto ao choro. Era inevitável. Toda noite as lágrimas vinham me visitar. Eu queria voltar para casa. Queria o Sr.Ekwall morto. Queria comer a doce April McCarthy, ao invés de um velho veadinho.
Certa manhã eu acordei com um terrível torcicolo. Não conseguia me mexer. Gritei de dor e o Sr.Ekwall imediatamente veio até o quarto. Olhou-me com pena e perguntou:
- Algo de errado, caro Bolah?
- Meu pescoço travou. – respondi, indicando o local da dor com o dedo.
- Hugo! – gritou o Sr.Ekwall para além da porta do meu quarto. – Traga uma compressa quente e aquele analgésico que costumo tomar quando tenho dores no joelho. Rápido!
Por mais que eu detestasse meu novo pai e as coisas que ele me obrigava a fazer, foi ele quem cuidou de mim durante aquela semana. Ele foi delicado e atencioso. Mesmo depois da minha aparente melhora, ele teve sensibilidade suficiente para não exigir que eu fizesse movimentos bruscos por um tempo. Ao invés disso, se masturbava enquanto olhava fixamente em meu rosto. Naquela semana percebi que eu tinha mais poder sobre o velho do que ele sobre mim.
Só depois de dois meses ganhei a confiança do Sr.Ekwall. Antes disso, ele me dava aulas particulares em meu quarto e, as poucas vezes que saia da mansão, o fazia em sua companhia.
Nunca chegamos a falar sobre a nossa situação, o Sr.Ekwall e eu. Ele era atencioso, gentil e no final das contas, um homem de bom coração. Quando fui para a escola, ele sabia que eu não falaria nada a ninguém. Ele era um homem poderoso que criara doze exímios e bem sucedidos filhos. Mesmo se eu abrisse minha boca, quem é que iria acreditar?
            O Natal chegou num piscar de olhos. Pela primeira vez na vida participei de uma ceia. Compartilhei comidas caras e perfumadas com a minha nova família. Eu tinha doze irmãos sendo que cada um viera de uma parte diferente do globo. Tinha bastante intimidade com James, que era piloto de aviões. Ele me falava sobre como era levar a vida nos ares e me incentivava a estudar para também me tornar piloto. Era o meu sonho, voar de um lado para o outro.
                Creio que aquelas sejam as memórias mais agradáveis que tenho da minha vida: Naquela noite comemos, bebemos (embora eu tenha ficado satisfeito com meia taça de vinho), cantamos e contamos histórias. Mas a exemplo de um louvável escritor inglês, não vou me prolongar nas partes felizes. É a parte desagradável da história que as pessoas querem ouvir. A parte sobre como, meus irmãos e eu, nos tornamos os Filhos de Estocolmo.
                Quando acordei na manhã seguinte ao Natal, a casa estava vazia e árvore de natal, desmontada. Fui até a cozinha, comi algumas fritas e tomei um copo de leite. Estava me preparando para tomar banho quando ouvi um grito. Peguei uma raquete de tênis que decorava a parede do meu quarto e fui investigar.
                O quartinho com instrumentos de tortura sexual do Sr.Ekwall estava aberto. Com cuidado, me aproximei da porta. Vi que James chorava muito e segurava uma faca cheia de sangue. O corpo do Sr.Ekwall estava caído no chão, em cima de uma poça de sangue.
                James olhou em minha direção.
                - Meu Deus... Irmãozinho... Nosso pai...
                - Calma! Calma, James! Eu vou ligar para a polícia.
                - NÃO! – James berrou. – Não...! Você precisa me ajudar. Fiz isso por nós.
                Então entendi. James não encontrara o corpo. Ele matara o nosso pai. O bondoso Sr.Ekwall. Aproximei-me dele para consola-lo. Mas não consegui. Bati com a raquete em sua cabeça. Ele caiu desmaiado. Por que eu havia feito aquilo? Lembro-me da confusão que me invadiu naquele momento. Eu queria o Sr.Ekwall morto, mas minhas mãos reagiram ao contrário. Sem saber o que fazer, liguei para o celular do meu pai; mas meu pai estava morto bem na minha frente. Ouvir “Jingle Bell Rock” tocando em seu bolso me fez chorar ainda mais.
                Então liguei para meu outro irmão, Hugo, que era o filho mais próximo de Ekwall. Em cinco minutos todos meus irmãos estavam na casa. Todos se desabaram em lágrimas quando viram o corpo morto do nosso pai.
                Hugo amarrou o desmaiado James na cadeira. Quando ele acordou, estávamos todos furiosos. Gary, nosso outro irmão, enfiou um vibrador rosa da coleção de nosso pai na bunda daquele assassino miserável.Ele levou doze facadas: uma de cada irmão.
                Alguns minutos depois de James morrer, a policia chegou à mansão. Ao que parece, os vizinhos haviam ouvido berros agonizantes vindos da janela. Eu e meus irmãos fomos presos e ficamos conhecidos na mídia sueca como os Filhos de Estocolmo. Filhos de um homem que tratara suas crianças como escravos sexuais, aprisionando-as da forma mais cruel possível.
                Hoje me encontro atrás das grades. Estou bem e há mais de trinta anos busco respostas para saber o que realmente aconteceu comigo. Mas nem os dois milhares de livros que eu li me ajudaram a encontrar uma resposta. Às vezes sonho com o Sr.Ekwall e ele é um anjo. E mesmo que todos o considerem um monstro, só eu sei como as intenções daquele homem eram reais e verdadeiras. Foi por essa razão que escrevi esta história. Para que todos vocês possam reconhecer um dos maiores homens que existiu. Por favor, uma salva de palmas para o Sr.Ekwall: educador, filantropo e acima de tudo, pai.

3 comentários:

  1. A cidade, Estocolmo, não foi escolhida por acaso, foi?

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  2. Não foi não! Vc notou =D! É uma referência a síndrome de estocolmo.

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  3. Primeiro de tudo: eca. ECA.

    Bom, de maneira geral eu gostei. A história é bem contada.

    Só acho que a ênfase que você dá nas partes sexuais fazem a história praticamente virar um conto erótico. Cuidado com isso. Talvez você devesse diminuir a carga de sexo, apesar de que eu entendo que sexo é essencial pra história.

    Alguns diálogos e um pouco da narração estão muito secos, muito falando exatamente o que o personagem está pensando, entende? Seria legal ter mais coisas nas entrelinhas, talvez usar um narrador não confiável, sei lá.

    Bolah faz a transição ódio-admiração rápido demais, mas acho que isso deve ser uma característica de quem sofre de síndrome de Estocolmo.

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